9 de jan. de 2008

NOSSAS CANÇÕES DE NINAR


Esse texto é de uma brasileira morando nos Estados Unidos da América, que para ajudar no orçamento, estava trabalhando como babá.

Ao cuidar de uma das meninas uma vez cantei "Boi da cara preta" para ela, antes dela dormir. Ela adorou, e essa passou a ser a música que ela sempre pedia para eu cantar ao colocá-la para dormir. Antes de adotarmos o "boi, boi, boi" como canção de ninar, a canção que cantávamos (em Inglês) dizia algo como:


Boa noite, linda menina, durma bem.

Sonhos doces venham para você,
Sonhos doces por toda noite"... (Que lindo, né mesmo!?)


Eis que um dia Mary Helen (a mãe das meninas) me pergunta o que as palavras, da música "Boi da cara preta" queriam dizer em Inglês:

Boi, boi, boi, boi da cara preta,

pega essa menina

que tem medo de careta...(???)


Como eu ia explicar para ela e dizer que, na verdade, a música "boi da cara preta" era uma ameaça, era algo como "dorme logo, senão o boi vem te comer"? Como explicar que eu estava tentando fazer com que ela dormisse com uma música que incita um bovino de cor negra a pegar uma cândida menina?


Claro que menti para ela, mas comecei a pensar em outras canções infantis, pois não me sentiria bem ameaçando aquela menina com um temível boi toda noite...

Que tal! "nana neném que a cuca vai pegar..."? Caramba!... Outra ameaça! Agora com um ser ainda mais maligno que um boi preto!


Depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro que fosse positiva me deparei com a seguinte situação:O brasileiro tem é trauma de infância!!!! Trauma causado pelas canções infantis!!!! Exemplificarei minha tese:


Atirei o pau no gato-to

Mas o gato-to não morreu-reu-reu

Dona Chica-ca admirou-se-se

Do berrô, do berrô que o gato deu

Miaaau!

Para começar, esse clássico do cancioneiro infantil é uma demonstração clara de falta de respeito aos animais (pobre Gato) e incitação à violência e a crueldade. Por que atirar o pau no gato, essa criatura tão indefesa? E para acentuar a gravidade, ainda relata o sadismo dessa mulher sob a alcunha de " D.Chica". Uma vergonha!


Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré, marré, marré.
Eu sou pobre, pobre, pobre,
De marré de si.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré, marré, marré.
Eu sou rica, rica, rica,
De marré de si.


Colocar a realidade tão vergonhosa da desigualdade social em versos tão doces!! É impossível não lembrar do amiguinho rico da infância com um carrinho fabuloso, de controle remoto, e você brincando com seu carrinho de plástico... Fala sério !!!

Vem cá, Bidu! vem cá, Bidu!
Vem cá, meu bem, vem cá!
Não vou lá! Não vou lá, Não vou lá!
Tenho medo de apanhar.


Quem foi o adulto sádico que criou essa rima? No mínimo ele espancava o pobre Bidú .....


Marcha soldado, cabeça de papel!

Quem não marchar direito,

Vai preso pro quartel.


De novo, ameaça! Ou obedece ou você se ferra! Não é à toa que o brasileiro admite tudo de cabeça baixa.


A canoa virou,
Quem deixou ela virar,
Foi por causa da (nome de pessoa)
Que não soube remar.


Ao invés de incentivar o trabalho de equipe e o apoio mútuo, as crianças brasileiras são ensinadas a dedurar e a condenar um semelhante. Bate nele, mãe!


Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava
É de umas boas palmadas.


A pessoa, conhecida como Samba-lelê, encontra-se com a saúde debilitada e necessita de cuidados médicos. Mas, ao invés de compaixão e apoio, a música diz que ela precisa de palmadas! Acho que o Samba-lelê deve ser irmão do Bidú ......!!


O anel que tu me deste
Era vidro e se quebrou.
O amor que tu me tinhas
Era pouco e se acabou...


Como crescer e acreditar no amor e no casamento depois de ouvir essa passagem anos a fio ??


O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido
E a rosa despedaçada.
O cravo ficou doente,
A rosa foi visitar;
O cravo teve um desmaio,
A rosa pôs-se a chorar.


Desgraça, desgraça, desgraça! E ainda incita a violência conjugal ( releia a primeira estrofe). Precisamos lutar contra essas lembranças, meus amigos! Nossos filhos merecem um futuro melhor
!


Recebido por email de Daiane A. Corrêa.

Um comentário:

guiomar barba disse...

olá Marcelo, vc me fez lembrar que na Bolívia as mães com a família qdo a criança ainda é bebê, começam falando: És mala, ella es mala. Isso repetem para todo mundo saber, e acompanha a criança todo o tempo. Eu ficava indignada e impressionada. Nunca permiti que dissessem dos meus filhos o mesmo.
Eu vou publicar no meu blog sua matéria, antes mesmo que me dê permissão.
Muito coerente. Abraços.