22 de jul. de 2008

A Revelação de um novo rosto de Deus

Por Carlos Mesters e Francisco Orofino

Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a idéia de se tratar de uma pessoa inflexível, antipática, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um rapaz, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não! Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!" Todos olharam de novo e disseram: "Que fotografia simpática!" Como por um milagre, ela se iluminou e tomou um outro aspecto. Aquele rosto tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, mudaram o sentido do Primeiro Testamento (Mt 5,17-18). O Deus, que parecia tão distante e severo, a ponto de o povo não ter mais coragem de pronunciar o seu Nome, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura! O mesmo acontece hoje nas Comunidades Eclesiais de Base. A experiência humanizadora da convivência comunitária e da luta em prol da justiça e da fraternidade gera uma nova experiência de Deus e da vida que se transmite através da participação das pessoas nos Círculos Bíblicos e encontros comunitários e lhes comunica um critério novo de interpretação. Aqui está a fonte escondida e geradora do processo da leitura popular da Bíblia na América Latina.

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Carlos Mesters e Francisco Orofino. Sobre a Leitura Popular da Bíblia (III). Em: www.adital.com.br.

3 de jul. de 2008

Assim Caminha a Impunidade

Depois de haver sofrido um assalto no domingo passado (29/06/2008), em que foram levados meus pertences e meu carro, um sentimento de tristeza me tomou. Não somente a tristeza dos bens levados, mas também pelo o sentimento certo que esse tipo de coisa não acabará tão cedo e ainda por cima é encorajado pela impunidade.

Contudo, antes de continuar, quero mais uma vez agradecer a Deus por me haver livrado do tiro disparado pelo infeliz, que ao que parece, ficou nervoso ao ver a minha calma e minha tentativa de dissuadi-lo a não levar meus documentos. Agradeço pelo livramento e por não ter levado nenhum dos meus filhos ou esposa no carro. Voltei para casa então do jeito que saí dela: Sem nenhum arranhão. O Senhor me levou e me trouxe de volta intacto. Glória a Ele por isso.

Voltando ao sentimento de tristeza. Lembro-me quando criança que andávamos pelas ruas sem medo, íamos ao cinema, à praça ao parque muitas vezes à pé, sem que andássemos sobressaltados com medo de cada pessoa que se aproxima ao longe, em sua direção. Vejo que isso não será dado aos nossos filhos, eles não andarão sem medo, sem evitar certos locais a certas horas e isso é triste. Estamos nos fechando dentro de nossas casas, nos privando da liberdade porque os que deveriam estar presos estão livres.

Como cristão, não sou a favor da pena de morte. Acho que, com regras simples, o problema de segurança poderia melhorar. Se nós cidadãos precisamos trabalhar para ganhar o pão, porque os encarcerados culpados não trabalham e ainda assim recebem tudo pago pelo Estado (nós) ? Acredito que o Estado poderia utilizar esta mão de obra em construção de estradas, túneis e semelhantes. Então, para comer, teriam que trabalhar. Assim, as mentes que, no presídio ficam soltas a maquinar o mal, estariam trabalhando e produzindo para retorno da sociedade. Gerariam receita ao invés de despesa. O gasto com a vigilância dos mesmos seria pouco a pouco recompensado com o término das obras com mão de obra farta e barata. A tecnologia para monitorar qualquer tipo de fuga existe a preço bem em conta. Poderia ser uma versão do que foi visto no filme “Wedlock" (1991) traduzido como “O Colar da Morte”. Retirando-se apenas o explosivo do colar, claro...

Muitos presídios funcionam como “Trade Centers”, onde se negocia com celulares, drogas, crime encomendado e toda a sorte de iniqüidade que os seres humanos podem cometer. Isto é visto pelas autoridades com uma cara de quem diz “É assim mesmo... Se vc coibir aqui, outro começa acolá...” e assim a impunidade vai ganhando terreno.

Pela Bíblia sabemos o que Deus tem para aqueles que vivem na injustiça: “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça” (Romanos 1.18). Deus é amor, mas também é justiça.

Oremos para que o Senhor nos ensine a “remir o tempo”, porque os dias são maus.