5 de mar. de 2009

Educação Brasileira

Uma pequena entrevista, mas que explica o não-andamento da educação no Brasil, mostrando que o tempo passa, mudam os métodos, mas o interesse pela melhoria da educação brasileira não irá adiante se depender dos governos que por aqui passarem, pois a necessidade do povo é ainda mais básica para que eles enxerguem o que precisa mudar. A responsabilidade das cobranças e mudanças fica portanto em cima daqueles mais privilegiados, que cursaram boas escolas, universidades e podem dar o mesmo aos seus filhos. Esses podem ter a visão das transformações necessárias:


Trecho da Entrevista do Senador Cristovam Buarque sobre o piso de R$ 950,00 aos professores de todo o país.

- Acha que a greve é a melhor maneira de impor o piso?

Não defendo a greve como instrumento de luta de professor. O primeiro prejudicado é o aluno. Os governadores dão tão pouca importância à educação que se lixam para a greve. É por isso que elas costumam durar cem dias. Greve de banco sempre dura menos de cem horas.

- O que deveriam fazer os professores?

Dar quatro horas de aula e sair da escola para cercar o palácio do governo. Sentar nas estradas, para impedir a passagem dos carros na frente do palácio. Coisas mais duras.

– Isso não pode ser entendido como afronta à ordem?

Afronta maior é impor, com a greve, sacrifício às crianças. Se quiserem, os professores podem sair por um caminho Gandhiana. Uma greve de fome de mil professores no Brasil poderia causar grande impacto. O que não dá é, a pretexto de melhorar a educação, piorar a situação com a greve.

- Por que a lei não é implementada?

Por duas razões. Uma político-ideológica e outra financeira.

- Qual é a razão financeira?

Governadores e prefeitos não querem gastar dinheiro. Haverá um aumento. Mas é um aumento necessário. A maioria não está contra o valor do piso, os R$ 950. Muitos jpa pagam isso.

- Estão contra o quê?

Eles se rebelam contra um artigo que não constava do meu projeto. Na Câmara, a deputada Fátima Bezerra [PT-RN] inclui um artigo que eu, hoje, defendo. Prevê que o professor dará aulas apenas durante dois terços do número de horas de sua carga de trabalho. Se a carga horária é de 40 horas, ele dá 33 horas de aula. O resto vai para atividades extraclasse: preparação de aulas, correção de provas. Governadores e prefeitos não querem porque terão de contratar alguns professores a mais. Mas a lei prevê que isso será feito em três anos. Há uma transição. Isso é fundamental. Aula bem prepara vai levar a uma redução da repetência. Hoje, a repetência impõe um custo adicional de R$ 5 bilhões anuais à Educação –6% do gasto total do setor.

- Qual seria a razão político-ideológica para não implantar o piso de R$ 950?

Para prefeitos e governadores, a educação não é importante. Não dá voto. Uma universidade dá mais votos do que dez escolas. A universidade vai para quem vota, uma classe média, mesmo que baixa. Os administradores públicos vêem a educação como um problema.

- Como assim?

Quando eles fazem uma ponte, vêem essa ponte como solução. Quando constroem uma escola, dizem que estão resolvendo um problema. E eles não pensam muito diferente da opinião pública.

- A opinião pública não dá importância à educação?

Não. A posição de prefeitos e governadores reflete o sentimento que eles recolhem do eleitor.

- Não acha que o eleitor esclarecido valoriza a educação?

No Brasil, o eleitor esclarecido é de classe média alta. E esse está com sua escola e a de seus filhos garantida. Está na escola particular. Não se preoucupa com isso.

- Falta discernimento ao eleitor pobre?

Para os pobres, a escola está boa. Avaliam que a escola deles era ainda pior. Hoje, a escola é um lugar onde eles jogam a criança e ela come.

- Como chegamos a esse quadro?

São muitos os fatores. Mas colaborou para isso o fato de o Lula ter tirado o nome ‘escola’ do Bolsa Escola. Quando criei esse nome, havia um objetivo: colocar na cabeça da população pobre que a escola era algo tão importante que ela ganharia dinheiro paraa o filho estudar. O Lula chegou e disse: ‘A pobreza é uma coisa tão preocupante que você vai ganhar um benefício por ser pobre. Deixou de ser uma contrapartida para a ida do filho à escola.

- Mas o Bolsa Família não exige a contrapartida da escola?

Essa contrapartida não é cobrada com a devida ênfase. A coisa amoleceu quando Lula tirou o programa do ministério da Educação, onde o Fernando Henrique tinha colocado, e levou para o ministério do Desenvolvimento Social.

- A unificação dos programas sociais foi um erro?

Esse foi o terceiro erro. O primeiro foi tirar a escola do nome. O segundo foi tirar a gerência do programa do ministério da Educação. O terceiro erro foi misturar os programas sociais. Bolsa Escola e Vale-gás são projetos assistenciais. A Bolsa Escola era um programa educacional. Ao misturar, ficou sendo tudo assistencial.

Enquanto os ministros do STF brigam por um estupendo "piso" de quase R$ 26 mil e andam em veículos de R$ 150 mil com motorista, nossos professores precisam queimar pneus nas ruas pra conseguir ter seu "piso" de míseros R$ 950,00.

Entrevista extraída do blog abaixo:

http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/entrevistas/


Nenhum comentário: