"The Last Laugh" - John Bird e John Fortune
Vale a pena ler até o fim esse humor de caráter britânico, tanto cômico quanto trágico.
Entrevistador: George Parr, você é um banqueiro de investimentos e, como tal, tem seus dedos bem no pulso dos mercados financeiros. Durante este verão tem havido muita turbulência, ou volatibilidade nos mercados. O que tem causado isto?
Banqueiro: Bem você precisa lembrar de duas coisas sobre o mercado. Primeiro é que ele é formado por pessoas muito astutas e sofisticadas, que são as mais audaciosas do mundo. A segunda coisa a lembrar é que o mercado, para usar uma frase bem-conhecida, é dirigido pelas emoções.
Entrevistador: O que isto significa?
Banqueiro: O que isto significa? Bem, digamos que as coisas estejam da forma normal no mercado. Então, de repente, do nada, alguma dessas pessoas sofisticadas e astutas grita: Meu Deus, perdemos tudo! O que vamos fazer? O que vamos fazer? Pular pela janela? Vendam, vendam! Vendam! Então, alguns dias mais tarde, essa mesma pessoa sofisticada diz: Sabe de uma coisa? As coisas estão indo bastante bem. E a outra pessoa diz: Concordo com você; estamos ricos, muito bem de vida. E isto é que é chamamos de emoções do mercado.
Entrevistador: Bem, é claro que você está exagerando um pouco.
Banqueiro: Bem, não sei. Em meados de agosto, os mercados caíram muito em Londres e uma firma bem-conhecida do Centro Financeiro emitiu uma declaração que dizia o seguinte: "Os participantes do mercado não sabem se devem comprar ao ouvirem os rumores ou vender ao ouvirem as notícias, se devem fazer o oposto, se devem fazer as duas coisas, ou não fazer nem uma coisa nem outra, dependendo da direção em que o vento esteja soprando.
Entrevistador: E este é o tipo de análise rigorosa pelo qual eles recebem seus polpudos salários, não é mesmo?
Banqueiro: Sim, e alguns dias mais tarde, quando o mercado sobe um pouquinho, algum executivo sênior da IBM ou da Abraham Morgan, diz: "Estamos de volta aos dias felizes."
Entrevistador: Bem, nenhum preço é alto demais para esse tipo de sabedoria amadurecida.
Banqueiro: E essas pessoas recebem milhões de libras em bônus.
Entrevistador: Durante este verão tem havido muitas causas para a volatilidade no mercado, específica e especialmente na América, devido à concessão de um grande número de hipotecas a pessoas que não tinham condições de pagar e para propriedades cujos valores caíram.
Banqueiro: Isto é o que se chama de mercado de alto risco (sub-prime).
Entrevistador: Como esse mercado funciona?
Banqueiro: Imagine um homem negro desempregado, sentado na varanda de sua casa que está caindo aos pedaços, lá no interior do Alabama. Um sujeito chega e diz: Você gostaria de comprar uma casa? Posso lhe emprestar o dinheiro.
Entrevistador: E esse sujeito que diz isso é um banqueiro?
Banqueiro: Não, ele é um corrretor de hipotecas e seus rendimentos dependem totalmente do número de hipotecas que ele consegue vender.
Entrevistador: Então o julgamento desse corretor para vender as hipotecas é completamente viciado.
Banqueiro: Sim, completamente viciado.
Entrevistador: O que acontece em seguida?
Banqueiro: Bem, essa dívida, essa hipoteca é comprada por um banco em Wall Street e colocada em um pacote de dívidas similares. Sem entrar em muitos detalhes, de alguma forma, esse pacote de dívidas ardilosas deixa de ser um pacote de dívidas e torna-se o que chamamos de um "Veículo Estruturado de Investimento".
Entrevistador: Um S.I.V.?
Banqueiro: Sim, um S.I.V.
Banqueiro: Sim, vou a Tóquio e digo: Vejam, tenho aqui este pacote. Vocês gostariam de comprar? Eles não têm a menor idéia e perguntam: Quanto você quer por ele? Eu digo: 100 milhões de dólares. E eles dizem: Ótimo. E é isto. É assim que funciona o mercado.
Banqueiro: Claro, você não esperaria que nós, banqueiros, fôssemos trabalhar de graça.
Entrevistador: Tendo em vista que nesses pacotes existem muitas dívidas ardilosas, o que atrai os investidores a correrem os riscos financeiros?
Banqueiro: Bem, porque todos os Fundos de Hedge que se especializam nessas dívidas têm nomes muitos bons.
Entrevistador: Você quer dizer, companhias responsáveis?
Banqueiro: Não, nada que ver com a reputação. Os nomes, os nomes é que são muito bons. Vou lhe dar um exemplo. Existe uma firma americana bem-conhecida em Wall Street, chamada Bear Stearns, que tem dois desses Fundos de Hedge, especializados nessas dívidas de hipotecas. Eles perderam tanto dinheiro, os fundos perderam tanto valor, que eles anunciaram que tiveram que injetar 2.3 bilhões de dólares em um dos fundos para salvá-lo.
Entrevistador: 2.3 bilhões de dólares?
Banqueiro: Sim, 2.3 bilhões e mesmo assim, eles disseram que os investidores não poderiam receber dinheiro algum do fundo e tiveram de encerrar o outro fundo. Mas um desses fundos chamava-se Fundo de Estratégia de Crédito Estruturado de Alto Nível e o outro chamava-se Fundo de Estratégia de Crédito Estruturado de Alto Nível Avançado e Alavancado.
Entrevistador: Ah, os nomes são muito bons. Eles soam bastante confiáveis.
Banqueiro: Esta é a mágica do mercado. Aquilo que começou originalmente com um fundo de alguns milhares de dólares para um homem negro desempregado comprar sua casa tornou-se um Fundo de Estratégia de Crédito Estruturado de Alto Nível Avançado e Alavancado.
Entrevistador: Gostei dos nomes.
Banqueiro: São muito bons. Soam bastante confiáveis. Basta colocar palavras positivas no nome, como "alto".
Entrevistador: "Alto" é uma boa palavra.
Banqueiro: Uma boa palavra. Muito melhor do que "baixa". "Estruturado" também não é uma boa palavra?
Entrevistador: Muito boa.
Banqueiro: E "avançado"?
Entrevistador: Gosto da palavra "avançado". Compro qualquer coisa que tenha "avançado" em seu nome.
Banqueiro: Claro. Isto tudo é muito diferente de chamar o fundo de Fundo do Homem Negro Desempregado.
Entrevistador: Sem dúvida, pois isso dispararia muitos alarmes. Mas, apesar desses nomes serem muito plausíveis, certamente a realidade é que as pessoas que emprestaram todo esse dinheiro foram incrivelmente estúpidas.
Banqueiro: Não, não. Estupidez seria se em algum ponto alguém perguntasse quanto essas casas valem realmente. [Frase não compreendida aqui]
Entrevistador: Mas agora as pessoas estão dizendo que a crise poderá provavelmente se transformar em um crise financeira de grandes proporções. Isto não pode ser evitado?
Banqueiro: Pode ser evitado desde que o governo e os bancos centrais dêem de volta para nós, especuladores financeiros, o dinheiro que perdemos.
Entrevistador: Mas isto não seria recompensar a cobiça e a estupidez?
Banqueiro: Não, não. Seria recompensar aquilo que o primeiro-ministro Gordon Brown chamou de "engenhosidade dos mercados". E não queremos esse dinheiro para nós, queremos que esse dinheiro entre no mercado para que possamos continuar tomando emprestado e emprestando como se nada tivesse acontecido e sem precisar nos preocupar tanto.
Entrevistador: Mas e se o pior acontecer e vocês não conseguirem recuperar esse dinheiro? O que acontecerá?
Banqueiro: Foi um prazer.
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(I Timóteo 6: 17 a 19) – “Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; Que façam bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis; Que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna.”